O ombro é uma das articulações mais complexas do corpo humano, pois é a articulação que contém o maior grau de amplitude de movimento com um grande grau de instabilidade, já que, diferente de outras articulações (como o quadril, por exemplo), seus ossos não se encaixam e toda a sustentação de ossos é feita apenas por tendões e ligamentos.
O complexo do ombro envolve uma integração complexa de estabilizadores estáticos e dinâmicos e deve haver movimentos livres e ações coordenadas entre quatro articulações: escapulotorácica, esternoclavicular, acromioclavicular e glenoumeral.
Articulação esternoclavicular
A articulação esternoclavicular é o único ponto de fixação esquelética do membro superior ao tronco.
Nessa articulação a clavícula está ligada ao manúbrio do esterno e é reforçada por três ligamentos: interclavicular, costoclavicular e esternoclavicular. O ligamento costoclavicular é o principal para a sustentação da articulação.
A clavícula nessa articulação pode se mover em três direções, dando a ela três graus de liberdade. A clavícula pode então se movimentar nos sentidos superior e inferior nos movimentos conhecidos como elevação e depressão. Ela também pode se movimentar nos sentidos anterior e posterior, denominados protração e retração.
A clavícula pode ainda realizar rotação anterior e posterior ao longo de seu eixo longitudinal por aproximadamente 40º a 50º.
Articulação acromioclavicular
Conexão da clavícula com a extremidade distal da escápula e é nessa articulação que ocorre a maioria dos movimentos da escápula com relação à clavícula.
Essa articulação situa-se sobre o alto da cabeça do úmero e funciona como restrição óssea aos movimentos do braço acima da cabeça, e é reforçada por uma cápsula densa e um grupo de ligamentos acromioclaviculares situados acima e abaixo da articulação.
Junto à articulação acromioclavicular existe o ligamento coracoclavicular, que ajuda nos movimentos da escápula como um eixo de rotação e por proporcionar apoio em movimentos que necessitam de maior amplitude de deslocamento. O coracoclavicular também funciona como limitador do deslocamento vertical.
O ligamento coracoacromial também está localizado na região, mas não atravessa a articulação e protege estruturas do ombro, limitando o excessivo movimento da cabeça do úmero.
Articulação escapulotorácica
A articulação escapulotorácica não é uma articulação típica que conecta osso com osso, mas sim uma articulação fisiológica.
Os músculos que se inserem na escápula agem na estabilização do ombro e no posicionamento adequado da articulação glenoumeral e por isso a escapulotorácica é importante para um bom funcionamento do complexo do ombro como um todo.
Articulação glenoumeral
A glenoumeral é uma articulação esferóidea sinovial, que oferece a maior amplitude de movimento e potencial de mobilidade entre todas as articulações do corpo.
A articulação possui uma pequena cavidade rasa denominada cavidade glenoidal, que tem apenas um quarto do tamanho da cabeça do úmero, onde deve se encaixar.
É por causa dessa diferença de tamanho entre cavidade glenoidal e cabeça do úmero é que o ombro apresenta essa mobilidade extrema, já que em qualquer momento do movimento apenas 25% a 30% da cabeça do úmero está em contato com a cavidade glenoidal.
Justamente por causa desse mínimo contato é que a articulação depende muito dos ligamentos e músculos para manutenção de sua estabilidade.
Os estabilizadores estáticos passivos são a superfície articular, o lábio glenoidal (borda de fibrocartilagem), a cápsula articular (dobro de volume da cabeça do úmero) e os ligamentos (coracoumeral e glenoumerais).
A sustentação dinâmica ocorre por uma contração muscular em um padrão coordenado que comprime a cabeça do úmero na cavidade glenoidal.
Os músculos posteriores do manguito rotador proporcionam estabilidade posterior, o músculo subescapular proporciona estabilidade anterior, a cabeça longa do bíceps braquial impede a translação anterior e superior da cabeça do úmero e o deltoide e demais músculos escapulotorácicos posicionam a escápula para proporcionar máxima estabilidade .
Acima do músculo supraespinhal situam-se as bolsas subacromiais e o ligamento coracoacromial. As bolsas são sacos repletos de líquidos localizados em pontos estratégicos para reduzir a fricção na articulação.
As Principais Lesões no Ombro em Atletas
Reabilitação das lesões no ombro
O ombro, por ser uma articulação considerada instável, já tem maior risco de sofrer lesões dos mais variados tipos.
Em atletas que utilizam os membros superiores com frequência o índice de lesões aumenta.
As principais lesões de ombros em atletas são:
Luxações
A luxação ocorre quando a porção superior do úmero de desloca para fora da cavidade glenoidal da escápula.
A luxação mais comum é a anterior, onde as estruturas responsáveis pela estabilização da porção anterior do ombro são rompidas.
A lesão pode ocorrer por um contato violento contra outro atleta ou objeto sólido, queda sobre o braço estendido ou rotação externa abrupta e violenta do ombro.
Subluxação
Uma subluxação ocorre quando a cabeça do úmero desliza parcialmente para fora da cavidade da escápula.
Pode ocorrer por golpe direto no ombro, queda sobre o braço estendido ou esforço extenuante do braço em posição inadequada.
Distensão muscular
Resulta de uma extensão muscular súbita de uma articulação além de sua amplitude funcional normal, causando lesão ao músculo e outras partes moles.
No ombro pode ocorrer a distensão dos músculos bíceps braquial e peitorais.
Pode ocorrer por movimento abrupto ou grande exigência física imposta ao músculo.
Síndrome do Impacto
Lesão crônica causada por atividades repetitivas realizadas acima da cabeça ou esportes de arremesso, que lesionam o lábio glenoidal, a cabeça longa do bíceps ou a bolsa subacromial.
Um estreitamento do espaço entre o manguito rotador e o acrômio resulta em dor no ombro e perda do movimento decorrente do déficit do manguito acometido.
Pode ser causado por movimentos repetitivos realizados acima da cabeça como tênis, natação, golfe, vôlei e levantamento de peso.
Separação acromioclavicular
Separação dos ligamentos que conectam a clavícula ao acrômio e geralmente ocorrem no treinamento de força do membro superior em vários esportes de arremesso e esportes de contato (futebol americano e hóquei).
Causada por queda sobre a região do ombro, queda sobre a mão estendida e golpe direto no ombro.
Separação esternoclavicular
Ruptura dos ligamentos que conectam a clavícula ao esterno, que pode se dar tanto na direção anterior como na posterior.
Pode ocorrer com golpe direto no esterno, queda sobre o ombro ou mãos estendidas, impacto do ombro contra o solo ou queda de outro atleta sobre o ombro.
Tendinite de manguito rotador
Inflamação dos tendões do ombro na área subjacente ao acrômio, do grupo de músculos conhecidos como manguito rotador.
Causado por movimentos repetitivos em movimentos acima da cabeça em esportes como tênis, beisebol, natação e etc.
Tendinite de bíceps braquial
Inflamação do tendão do bíceps, músculo que realiza flexão de cotovelo e supinação de antebraço.
O uso excessivo do bíceps braquial pode levar à inflamação, sendo uma doença muito comum em golfistas, levantadores de peso, remadores e atletas arremessadores de peso.
Ocorre por técnica inadequada no levantamento de peso e aumento repentino na duração ou intensidade do treino.
Bursite de ombro
Inflamação na região entre o osso da porção superior do úmero e o acrômio. Tênis, beisebol e treinamento com pesos pode gerar bursite de ombro.
Causada por uso excessivo do ombro em atividades de arremesso, tênis, natação ou beisebol, queda sobre o braço estendido ou inflamação da bolsa do ombro.
Aparelhos e equipamentos utilizados
na Fisioterapia Esportiva para Lesões no Ombro
O fisioterapeuta pode utilizar alguns aparelhos e
equipamentos que vão auxiliar no processo de reabilitação das lesões dos ombros
dos atletas. Os mais utilizados são:
TENS – para controle da dor
FES/Corrente Russa – Para fortalecimento muscular
Ultrassom – Para diminuir a inflamação
Laser – para acelerar o processo de cicatrização
Como Saber se o seu Paciente Atleta Está Preparado Para
Voltar aos exercícios
É importante conversar com seu paciente e orientá-lo a
respeito da evolução natural da lesão apresentada e sobre a recuperação das
estruturas afetadas. Também é importante que ele siga as orientações a respeito
do tempo de repouso e reabilitação.
Após todo o processo de reabilitação o fisioterapeuta deverá
realizar uma nova avaliação para verificar se o membro acometido está
totalmente reabilitado e pronto para voltar aos exercícios. O fisioterapeuta
deve avaliar:
Se há presença de dor com ou sem movimento
Se há algum sinal de inflamação no local da lesão
Se há diminuição da amplitude de movimento
Se há diminuição da força muscular
Se o atleta demonstra insegurança na realização de
movimentos do membro acometido
Caso o atleta apresente algum desses sintomas uma nova
avaliação médica e fisioterápica deve ser realizada.
Se o atleta não apresentar nenhum desses sintomas e
conseguir realizar suas atividades esportivas sem dor e com total segurança,
ele está apto para voltar aos exercícios.
Porém é importante orientá-lo e prescrever exercícios para
prevenção de recidivas e de novas lesões.
Cuidados Especiais Com Alunos Que Possuem Lesões no Ombro
É preciso tomar alguns cuidados específicos de acordo com a
lesão que o aluno possui.
Se o aluno estiver com muita dor é necessário que o
fisioterapeuta inicialmente utilize recursos para controle da dor como TENS,
gelo e ultrassom para posteriormente entrar com os exercícios.
Alunos que passaram por tratamento de cirurgia também
necessitam de cuidados especiais e devem realizar um programa de reabilitação
específico pós cirúrgico.
Restrições de Exercícios Para Alunos
Com Lesões no Ombro
Alunos com luxação de ombro na fase aguda não devem realizar
exercícios de alongamento muscular.
Exercícios que causem dor ou desconforto ao aluno são
contraindicados.
Alongamentos
Os alongamentos devem ser realizados para melhorar a flexibilidade dos músculos do complexo articular do ombro e manter a amplitude de movimento dentro da normalidade.
Os alongamentos indicados para lesões no ombro são:
- Alongamentos de peitorais
- Alongamentos de deltoide
- Alongamentos de tríceps braquial
- Alongamentos de grande dorsal
Exercícios de Fortalecimento
Os exercícios de fortalecimento variam de acordo com a lesão do atleta em questão.
De uma maneira geral, é importante fortalecer todos os músculos do complexo articular no ombro, com ênfase no manguito rotador.
Exercícios indicados:
- Fortalecimento de peitorais
Paciente deitado em decúbito dorsal, com flexão de quadril e joelho e pés apoiados, com 1 halter em cada mão. O peso do halter deverá ser indicado pelo fisioterapeuta após avaliação.
Com os membros superiores estendidos na altura do ombro, solicitar uma abdução horizontal.
- Fortalecimento de deltoides
Paciente sentado, com quadris e joelhos flexionados a 90º e pés apoiados no chão, com 1 halter e cada mão.
Solicitar abdução dos ombros, até a altura de cada ombro.
- Fortalecimento de bíceps braquial
Paciente em pé, com membros superiores levemente abduzidos na largura do quadril e joelho semi-flexionados, com 1 halter em cada mão.
Solicitar flexão de cotovelo.
- Fortalecimento de rotadores internos e externos de ombro
Paciente em pé, com membros superiores levemente abduzidos na largura do quadril e joelho semi-flexionados. Prender 1 theraband na barra de espaldar na altura do cotovelo do paciente.
Solicitar que mantenha cotovelo preso ao tronco e realizar rotações internas e externas.
- Fortalecimento de trapézio
Paciente em pé, com membros superiores levemente abduzidos na largura do quadril e joelho semi-flexionados.
Prender um theraband em uma barra de espaldar na altura do cotovelo do paciente. Solicitar que o paciente puxe o theraband para trás.
Como a Fisioterapia Esportiva Pode Prevenir os Atletas de Lesões no Ombro
A fisioterapia esportiva não trabalha apenas na reabilitação, mas também no processo de prevenção de lesões.
O fisioterapeuta atua estudando a fundo toda a biomecânica do esporte a fim de encontrar quais são as principais lesões de cada esporte e quais as formas de prevenir cada uma delas.
Nadadores
O tipo de lesão mais frequente entre os nadadores é a tendinopatia de ombro, causada geralmente pelo excesso de treinamento, já que atletas de grande nível chegam a nadar entre 10 a 14km por dia, durante 6 a 7 dias por semana. Isso equivale a 2.500 braçadas em um único dia. Isso contribui para o alto risco de lesões.
Para prevenir as lesões é necessário que o fisioterapeuta trabalhe com o atleta para fortalecimento do core, manguito rotador e de todo o complexo muscular do ombro antes, durante e após a temporada de competições.
Os alongamentos também devem ser realizados.
Após os treinos e competições o fisioterapeuta deverá prescrever o uso de gelo para prevenção e tratamento de inflamações.
Treinos funcionais específicos para natação que melhorem as técnicas das braçadas devem ser prescritos para melhora da biomecânica do movimento.
Jogadores de Vôlei
As lesões mais comuns no vôlei são as tendinites de rotadores de ombro ou manguito rotador e bíceps braquial, também causados pelo excesso de treinamento.
Para prevenir essas lesões é necessário que o fisioterapeuta entre com um grande treino de força e flexibilidade muscular.
Jogadores de ponta que atacam mais merecem uma atenção maior no quesito trabalho de força muscular.
Todos os músculos do complexo articular do ombro e manguito rotador precisam ser fortalecidos para prevenir lesões.
Fortalecimento muscular com movimentos combinados devem ser realizados para um melhor resultado: rotação externa de ombro com rotação externa da cintura escapular, rotação interna de ombro com rotação interna da cintura escapular elevação de ombro com rotação externa da cintura escapular, abdução do ombro e rotação externa da cintura escapular, adução do ombro com rotação interna da cintura escapular, extensão e ombro com rotação interna da cintura escapular e abdução horizontal de ombro com adução da cintura escapular.
Treinos funcionais específicos do esporte também são indicados.
Judocas
As lesões mais comuns nos atletas de judô são as luxações e a subluxações da articulação glenoumeral e tendinopatias por uso excessivo.
Para evitar essas lesões é necessário entrar com um treinamento intensivo de força muscular de todos os músculos da região do ombro, principalmente do manguito rotador, para manter o ombro estável durante os movimentos, impedindo o seu deslocamento e uma possível luxação.
Exercícios de alongamento também devem ser indicados para que o atleta mantenha uma grande amplitude de movimento, também para impedir deslocamentos excessivos da articulação glenoumeral.
Bandagens funcionais podem ser realizadas para evitar as luxações em atletas que possuem predisposição ou sofrem de frouxidão ligamentar.