O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é para muitas alunas um grande pesadelo e o responsável por algumas (várias) noites em claro. Ele ganha forma e se apresenta como um fantasma, um ente real, que assombra suas vidas nos últimos anos de faculdade.
Ele não deve ser visto assim; ao contrário, deve ser encarado apenas como um trabalho maior e por isto mais trabalhoso, pois durante a graduação já foram realizados vários trabalhos, que se somados e unidos em um só trabalho, esse seria bem maior que o TCC.
Apresentamos a seguir alguns passos, dicas a fim de ajudá-la no processo de construção de seu projeto de TCC.
- Não existem fantasmas
O primeiro passo para realizar uma boa pesquisa é encará-lo como realmente ele é. Monstros e fantasmas não existem, eles são criações da mente humana. Mas se acreditamos neles, eles nos cegam diante da realidade concreta e, nesse caso, se apresentam como uma falsa verdade, impossível de ser transposta, que de antemão diminui você frente a ela.
Talvez, a grande finalidade do TCC seja desmitificar uma ilusão e trazer à tona uma verdade sobre um ponto. As ilusões são o que há de pior para que percebamos a realidade. Logo, romper com a falsa ideia de que o TCC seja impossível de ser feito também entra no boje de objetivos deste trabalho.
Há um velho ditado popular que diz: “Na vida, para tudo tem jeito, somente para a morte que não”. Assim, também para o seu TCC tem jeito e ninguém vai morrer por causa dele.
E, ademais, ele não é algo fora da sua realidade acadêmica, mas faz parte do currículo. Se você chegou até aqui, significa que você tem todas as condições necessárias para realizar mais este trabalho.
Agora, não quer dizer que se ele não é um monstro, ele é fácil, como dissemos acima, ele é mais trabalhoso. Logo, você deve arregaçar as mangas e começar o mais rápido possível a sua pesquisa. Use todos os momentos de folga, inclusive as férias para adiantá-lo.
Segue outros passos a fim de facilitar a sua vida na realização de seu TCC.
- O objeto de Estudo
O objeto de estudo é o que você pesquisará. Simples? Não?
Um dos grandes problemas do TCC é que muitas pesquisas não têm objeto ou que ele é tão grande, que não teremos tempo para pesquisá-lo.
O TCC deve seguir os mesmos passos das demais pesquisas que fazemos, ao longo da vida. Por exemplo, imaginemos que você fará uma viagem para Fernando de Noranha. Então, antes da viagem, você pesquisará os pontos turísticos que você deve conhecer, nesse passeio.
Neste caso, qual é o seu objeto de estudo?
Os pontos turísticos de Fernando de Noranha.
Se sua pesquisa for bem feita, você terá melhores condições de desfrutar a viagem do que se não tivesse feito uma investigação prévia, mesmo que o passeio não ocorra plenamente semelhante ao que você esperava.
Mas se ao invés de pesquisar os pontos turísticos desse belíssimo arquipélago, você abrisse a pesquisa e pesquisasse sobre os pontos turísticos do Nordeste Brasileiro. Você teria uma enorme quantidade de informações que seria inútil para essa viagem especifica.
Não que você não pode fazê-la, mas neste exato momento é melhor que se estude apenas um ponto. Em outro momento, esta pesquisa é benvinda a fim de que você escolha outro local para viagem. E ao escolhê-lo, então você deve realizar uma nova pesquisa fechada sobre este local especificamente.
O mesmo ocorre com o TCC, você deve realizar uma pesquisa o máximo possível delimitada e excluir tudo aquilo que não se refere a ela. Alguns orientadores até sugerem que se cole um lembrete, ao lado da tela do computador, com o objeto de estudo a fim de que não se desvie dele, durante a produção do TCC (se ajudar, fica aqui a dica).
O seu objeto de pesquisa para o TCC deve ser apenas um, se você não fizer isso, a pesquisa consumirá mais tempo e energia do que necessário; além disso, você não realizará um bom trabalho.
Para clarear o que estamos dizendo, usemos um exemplo. Vamos Imaginar que você queira fazer uma pesquisa sobre as brincadeiras realizadas nas escolas.
Neste caso, você já tem um tema de pesquisa, porém não um objeto, pois o tema é muito amplo. Logo, você deve delimitar o máximo possível este tema para ter um bom objeto de pesquisa.
Sugerimos, para este caso, que a primeira delimitação seja sobre a faixa etária, ela pode ser de 0 -1 ano; 1-2; 2-4-5; 5-6…
Veja bem, a criança nos primeiros anos de vida tem um desenvolvimento muito grande e há diferenças enormes, por exemplo, de uma criança de zero ano para uma de um ano. Logo, ao definir uma faixa etária, estará estudando o que é específico para aquela idade e não teremos uma pesquisa generalizada e vaga.
A pesquisa teve uma primeira delimitação, porém é preciso delimitar ainda mais, pois o tema continua genérico, haja vista que há vários elementos que podem ser investigado, tais como: A forma como os educadores trabalham estas brincadeiras; a relação das crianças com elas; os materiais didáticos que versam sobre estas brincadeiras, entre outras.
Em geral, os cursos de graduação preferem que um objeto de estudo, em que se possa ir a campo a fim de fazer a investigação, pois este é mais fácil de verificar do que um objeto exclusivamente teórico. Assim, excluímos desta pesquisa os materiais didáticos. E ficamos com dois possíveis objetos: “A forma como os educadores trabalham estas brincadeiras”; “a relação das crianças com elas”.
Agora, você deve optar por um destes dois objetos. Ao escolher um deles, você já está quase com o objeto plenamente delimitado. Só falta uma coisa, dizer se você pesquisará em uma instituição pública ou particular. Haja vista que há grandes diferenças entre o ensino público e privado em nosso país, infelizmente.
2.1. Escolha do Objeto
A vida é feita de escolhas e, ao optar por algo, está necessariamente abrindo mão de outras coisas. Assim, o dia em que decidimos cursar determinado curso de graduação, abdicamos, ao menos por hora, de cursar todos os outros. O mesmo vale para a cidade que moramos; a roupa que estamos usando.
E por que decidimos estes caminhos e não por outros? É evidente que a resposta é individual e subjetiva para cada pessoa, mas nós podemos afirmar que estas decisões se deram por alguma afinidade pessoal.
O mesmo vale para o objeto de estudo do TCC, ele deve nascer de um desejo, de um gosto específico da pesquisadora, que só ela pode responder. Por exemplo: ela pode querer, em um futuro breve, trabalhar com aquele determinado tema; ou ela gostou muito de estuda-lo na faculdade; ou aquele tema marcou de forma significante a sua vida.
O importante é que escolha do objeto lhe seja agradável, pois a pesquisa será trabalhosa. Logo o tema deve trazer algum beneficio para a vida de quem pesquisa. Afinal, ninguém escolheria como sobremesa “romeu e julieta” (queijo com doce de goiaba) se tiver intolerância à lactose.
Antes de passarmos para o próximo item se fazem necessários alguns esclarecimentos. Primeiro: não há um objeto mais fácil que o outro, a facilidade estará na afinidade que você tem com o tema escolhido.
Segundo: você pode mudar de objeto ao longo da pesquisa, mas não deve. Na vida, nós podemos fazer várias coisas; algumas destas, nós não devemos. Se você mudar de tema, ao longo da pesquisa, você perderá todo o trabalho anterior. E ademais, o TCC não é a sua vida, ele é apenas mais um trabalho, logo você deve terminá-lo o mais rápido possível e o tempo é um dos grandes vilões na elaboração de seu TCC.
Terceiro: o seu objeto tem que ser palpável, ou seja, ele tem que oferecer condições a fim de que você possa pesquisá-lo. Por isso, veja se há bibliografia (livros, artigos, dissertações, monografias). E veja se será possível fazer aquela pesquisa. Por exemplo, se alguém quiser pesquisar como é realizado o Conclave, em que os cardeais escolhem o Papa não será possível, pois este evento é fechado e permitido apenas aos cardeais.
- Problematização
A problematização nada mais é do que as perguntas que fazemos ao objeto. Ela é o que queremos descobrir com a nossa pesquisa. Assim, ao delimitar o objeto, devemos fazer algumas perguntas a ele e, ao longo do TCC, em especial no terceiro capítulo, nós responderemos estas questões a partir de nossas observações, estudos e reflexão.
A problematização também está presente em todas as coisas de nossa vida que queremos descobrir. Por exemplo, uma amiga diz para você que tem uma excelente pessoa para te apresentar, um professor de Filosofia.
Você, então, a questionará sobre ele:
- Ele é bonito?
- Solteiro? Casado? Namora?
- Alto? Baixo? Médio?
- Magro? Gordo? Forte?
- Inteligente? Bobinho?
- Legal? Amigável?
- Extrovertido? Tímido?
- Baladeiro? Caseiro?
- Rico? Pobre? (esta é uma pergunta inútil para este caso, pois pela sua profissão – professor – de antemão, se sabe a sua condição financeira).
- Quais são os seus passatempos?
- Qual time ele torce?
Vejam bem, estas questões se referem exclusivamente ao rapaz que a sua amiga mencionou, o professor de Filosofia. Neste caso, ele é o seu objeto de estudo. As perguntas giram todas sobre ele a fim de te ajudar a conhecê-lo melhor.
As perguntas precisam ser referentes à apenas sobre o seu objeto. E não podem desviar o foco da pesquisa. Por exemplo, se sua amiga disser que ele torce pelo Corinthians. Não cabe, neste momento, especular sobre como o time está no campeonato brasileiro, como ficou o resultado do último jogo. Se isto ocorrer, o seu objeto de pesquisa muda, do professor para o Corinthians. Agora, você pode perguntar se ele é um torcedor fanático ou não. Assim, você estará se aproximando cada vez mais do objeto de pesquisa.
Porém, você somente quem ele realmente é ao estar com ele A sua amiga pode falar que ele é bonito e você não achar. Não é? Encontrá-lo é, assim, o momento da pesquisa em si.
Voltando para o TCC, você deve fazer a problematização da mesma forma. Vamos usar para ilustrar o seguinte objeto de pesquisa: “A participação dos pais na comunidade escolar”.
Note que o objeto se refere à forma como os pais participam da vida da escola. E não como os pais acompanham, em casa, os estudos dos filhos.
Logo, as perguntas devem girar em torno da participação dos pais dentro da escola. Vejamos algumas perguntas para este objeto:
- Como é participação dos pais na vida da escola?
- Qual é a frequência?
- Qual é a quantidade de pais?
- Quem são estes pais?
- Como se dá a participação?
- Quais são as contribuições trazidas por eles?
- São ativos ou passivos?
- Em quais eventos participam?
- Eles ajudam a decidir os rumos seguidos pela escola?
- Eles ajudam a resolver os problemas da escola?
- Há abertura dos gestores para a participação dos pais?
- Como é o seu relacionamento com os outros agentes escolares (professores, funcionários)?
- Quais foram as melhorias trazidas pelas famílias à escola?
As perguntas foram exclusivamente para conhecer o objeto. Você não precisa fazer tantas perguntas assim, pode condensá-las ou pode fazer mais perguntas. E elas não são fechadas, durante a pesquisa, pode surgir novas questões à medida que se aprofunde nas leituras do texto e na observação do objeto.
Note que não foi perguntado, se os pais participam da escola, pois se você escolheu este objeto é porque você sabe que ele existe.
Hipótese
A palavra Hipótese (do grego: ὑπόθεσις) é a junção de dois radicais: hipó (ὑπό) + thésis (θεσις). Hipó quer dizer: abaixo, inferior; e Thésis quer dizer: posição racional frente a determinado Objeto e Fenômeno ou a Teoria que se cria a respeito de algo.
Logo, hipótese, no Projeto de Pesquisa, é a suposição que você faz, aquilo que você acha da Problematização, ou seja, você responderá as perguntas feitas.
Você pode fazer a hipótese por pontos ou em uma só resposta. A segunda maneira é mais usual. Mas escolha qual preferir ou responda por pontos e depois monte uma só resposta.
Por: Wilson Horvath
Fonte: Reflexoesdeumprofessor